Page 23 - Revista LER&Cia Edição 90
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Holofote
LER&CIA | Em sua opinião, o que a existência de LER&CIA | Você acha que é um ramo com predomi-
um livro feito apenas por mulheres significa para o nância masculina?
público de literatura? Lorena Pimenta | Com certeza! E isso parte do ma-
Lorena Pimenta | Existe esse lugar que precisa ser chismo estrutural em que mulheres foram levadas a
ocupado por nós, mulheres, porque é essencial haver sério bem depois dos homens. Infelizmente, passei a
igualdade em todas as profissões no mundo. Antes maior parte da adolescência lendo livros escritos por
de o projeto começar, eu estava superincomodada homens. Ótimos autores, por sinal, mas sempre me
com a line up de alguns eventos literários, pois faltou o olhar feminino sobre a arte. O bom é que, ago-
claramente a presença de mulheres era minúscula. ra, aos poucos, estamos mudando o cenário. Fico feliz
Enquanto isso, os homens – mais uma vez – tomavam em saber que existem diversas referências para meni-
conta. Admiro muitos autores e isso não é uma nas e mulheres que desejam seguir essa carreira – e
guerra. Pelo contrário: acho que a arte democratiza que essas referências ultrapassam outras camadas,
quando equilibra. A existência do livro reforça o como a representatividade negra.
olhar profundo sobre nós que ultrapassa criatividade
e talento, algo que só a gente consegue ter. Ajuda as LER&CIA | Em muitos momentos, o livro reforça a
mulheres a olharem com mais sensibilidade para si importância do amor-próprio feminino. Hoje, por que
e também a encorajá-las a expor suas artes. isso deve ser debatido?
Lorena Pimenta | Sem amor-próprio a gente não
LER&CIA | Como você acha que o livro, com a abor- consegue filtrar o que deve ou não aceitar e, quando
dagem sensível que traz, pode ajudar outras mulhe- aceitamos menos do que merecemos, dificilmente
res a enfrentarem inúmeras questões do dia a dia? chegaremos aonde queremos.
Lorena Pimenta | No livro, não há julgamentos
às mulheres. Assim como o olhar expressado LER&CIA | Você é carioca. Você conseguiria lembrar
não parte do externo. Escrevemos sobre todas as de algum texto que escreveu para o livro que tenha
situações estando dentro delas e isso faz toda a sido inspirado em alguma questão do seu cotidiano?
diferença numa sociedade em que mulheres sentem Lorena Pimenta | O texto Quando o mar virou gente
culpa até quando são vítimas. A partir disso, criamos fala de um amor embalado pelo cenário carioca. Ele
a conexão de cumplicidade que é essencial para não existiria se minha saudade não repousasse na
abrir seus olhos. Com isso, a chance de conseguir Urca, meu desejo não visitasse a Tijuca e minha es-
é muito maior. perança não admirasse as luzes do Vidigal.
Conheça as autoras
Carol Stuart – Leonina Fernanda Gayo – A maior Jéssica Barros – Lorena Pimenta – Maysa Muniz – Para a
e mineira de Belo paixão da carioca é Estudante de jornalismo, Formada em Produção estudante de Psicologia
Horizonte, ela adora escrever, já que sempre Jéssica se encontrou Audiovisual, é conhecida de Goiás, não há nada
plantas, música e tropeça nas palavras ao na poesia ainda pelos vizinhos como melhor do que o amor.
muda o cabelo toda vez falar. No papel, porém, adolescente. Moradora “garota-sorriso”. Detalhista, a geminiana
que tem seu coração tudo é diferente – seus de Sergipe, ela ama Carioca da baixada, ela é completamente
partido: motivo pelo textos são o lugar onde praia, conversas sobre adora dias ensolarados, apaixonada pela vida
qual já usou mais de discorre longamente viajar no tempo e, acima muita praia e – é claro e pelas pessoas
dez cores na cabeça. sobre seus amores. de tudo, escrever. – a poesia. ao seu redor.
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janeir