Page 19 - Revista LER&Cia Edição 91
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Clássicos da Literatura
LER&CIA | Em sua opinião, o que faz Mulherzinhas LER&CIA | Qual a importância desse livro para as
ser considerado um clássico? mulheres da literatura?
Thayssa Martins | A obra dialoga com temas que Thayssa Martins | Ainda hoje, mulheres são rejeitadas
perpassam as vivências femininas em diversos na contratação de originais por uma editora, em
contextos sócio-históricos e culturais, inclusive premiações literárias, na crítica. Não faz muito
contemporâneos. Por exemplo, configurações tempo, Joanne Rowling teve de assinar seus livros
familiares compostas exclusivamente por mulheres como “J. K.” para ser confundida com um homem e
e a confrontação com papéis de gênero socialmente conseguir, assim, melhores chances comerciais para
impostos, seja pela tentativa de conformidade, seja seus livros. Temos, no Brasil e no mundo, um forte
pela de ruptura. movimento convocando à leitura e à valorização de
obras de mulheres porque isso ainda é necessário.
Apenas por escrever e publicar, Louisa May Alcott, que
inicialmente também usou um pseudônimo abreviado,
já rompeu com papéis de gênero. Em Mulherzinhas,
reivindica uma narrativa feminina, ainda que sob uma
ótica marcada pela tradição da época, o que é
natural. Reconhecer-se escritora, como vivencia
a protagonista Jo March, pode ser parte do
processo de se reconhecer sujeito e, para as
mulheres, num contexto ainda masculinista,
esse é um trabalho que nunca acaba. O público
leitor é formado, em grande parte, por pessoas que
escrevem ou sonham em escrever. Então pode ser
muito catártico para a mulher leitora, e eventualmente
escritora, acompanhar uma protagonista com a qual
se identifique nessa atuação ou ambição.
“ Louisa May Alcott, que
Apenas por escrever e publicar,
inicialmente também usou
”
um pseudônimo abreviado, já
rompeu com papéis de gênero.
Thayssa Martins,
da Macabéa Edições, editora que trabalha
exclusivamente com a mulheridade
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