Page 32 - Revista LER&Cia Edição 90
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Entrevista
LER&CIA | No livro, você diferencia ser positivo de LER&CIA | Para você, qual é a maior dificuldade
pensar positivo. Que diferença é essa e por que ela é de ser feliz?
tão relevante na busca pela felicidade? Luiz Gaziri | Existe um comportamento que preocupa
Luiz Gaziri | Ser positivo é ser uma pessoa que os cientistas, chamado FOMO (“fear of missing out”),
vivencia muitos momentos gratificantes durante seu que significa “medo de ficar de fora”. Basicamente,
dia a dia. É quem, por exemplo, presenteia, gasta seu consiste na tendência de pegar o telefone a todo
dinheiro com os outros, lembra de ser grato por tudo instante porque não quer ficar de fora da última piada,
o que tem. É quem trata os outros de forma bondosa. do último meme, da última notícia. Isso vem com
Já pensar positivo é quando uma pessoa acredita um preço impagável e acaba estragando os nossos
que seus objetivos serão realizados com a força do relacionamentos, que são o previsor número um
pensamento, que o universo vai conspirar a favor de felicidade. Precisamos moderar o uso de celular
dela. É simplesmente mentalizar que vai acontecer. e, claro, a busca pelo reconhecimento dos outros.
De acordo com estudos da Universidade de Nova A gente precisa é reconhecer as outras pessoas e,
Iorque, quem pensa positivo tem menos chances quando estamos com alguém, precisamos estar
de atingir seus objetivos. Na pesquisa, confirmou- verdadeiramente com ela – e não no telefone. Essas
se que esta atitude ativa uma área do sistema atitudes que já citei algumas vezes fazem com que
nervoso responsável por sentirmos prazer e, assim, percamos momentos pequenos que vão aumentar
inconscientemente, nosso cérebro nos engana. consideravelmente a nossa felicidade.
Ele nos faz pensar que já alcançamos o objetivo.
Também há estudos que relacionam o pensar LER&CIA | Qual dica você daria às pessoas que, em
positivo com a diminuição da pressão sistólica do 2020, querem derrotar o medo de perder?
coração, que está atrelada à motivação da pessoa. Luiz Gaziri | Em um primeiro momento, muitas
Logo, a pessoa não age verdadeiramente em direção das atividades que deixam a gente mais feliz não
aos seus objetivos. parecem verdadeiramente prazerosas. Usar seu
dinheiro para presentear alguém ou doar para a
LER&CIA | A ciência da felicidade cita as pessoas caridade, a princípio, não parece que trará felicidade,
intituladas “desesperadas por reconhecimento”. mas só percebemos que ficamos mais felizes depois
Neste novo ano, que transformação elas podem que gastamos nosso dinheiro com outras pessoas.
buscar para que não percam os momentos que Temos um cérebro moldado evolutivamente pelo
realmente interessam na vida? viés da negatividade, em que o ser humano tende a
Luiz Gaziri | Nós temos uma dificuldade de saber procurar coisas ruins. Por isso, precisamos praticar
o que é que realmente nos deixa feliz e, por isso, o máximo de coisas positivas no nosso dia a dia
muitas vezes buscamos o reconhecimento dos para que a gente mude a configuração original do
outros. Os cientistas mostram o caminho contrário cérebro. Dessa forma, ele aprende a procurar pelas
na busca pela felicidade: na verdade, ficamos mais coisas boas do mundo. A felicidade exige esforço
contentes quando reconhecemos as pessoas ao e dedicação. Não é uma condição natural do ser
redor. Quando buscamos o reconhecimento dos humano. Precisamos construir nossa felicidade
outros, colocamos a felicidade na mão dessas tendo momentos positivos diariamente.
pessoas. Nunca sabemos se vão elogiar nosso cabelo
ou nossa roupa nova, se o chefe vai reconhecer o
trabalho... Se a gente faz qualquer coisa esperando
o reconhecimento dos outros, muitas vezes vai se
frustrar. As pessoas buscam sempre o máximo de A ciência da
curtidas nas redes sociais e esse consumo online
nos afasta dos relacionamentos que realmente felicidade
valem a pena na vida. O abraço do filho, o beijo da EDITORA FARO | Luiz Gaziri
esposa, o sabor da refeição.
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32 janeiro/fevereiro 2020