Page 11 - Revista LER&Cia Edição 86
P. 11
Entrevista / LER&CIA
do Shopping Palladium, para lançar a obra, fala sobre Educar de maneira não violenta é
o assunto em entrevista exclusiva à LER&CIA. “um exercício de autoconhecimento,
de revisitar-se diariamente.”
LER&CIA | Mesmo que os pais não batam nos filhos, a vio- Elisama Santos
lência pode estar presente?
Elisama Santos | A nossa linguagem habitual é vio-
lenta. Estamos acostumados a estimular mudanças
de comportamento utilizando a culpa, a vergonha e Você enfrentou resistência quando co-
a dor como motivadores. E isso, por si só, é muito vio- meçou a falar sobre esse assunto?
lento. “Se não tomar banho, ninguém vai querer ficar Quebrar paradigmas levanta mui-
perto de você!”, “assim a mamãe fica triste”. Esses são tas resistências. As pessoas conhe-
exemplos corriqueiros do quanto o nosso jeito de edu- cem pouco sobre o tema, mas já
car foca na dor e não no autodesenvolvimento. têm uma opinião formada; acre-
ditam que quando abrimos mão
Quais são as principais bases da educação não violenta? das punições seremos permissivos.
A base é a conexão. O desejo genuíno de se conectar Sempre digo que entre o 8 e o 80
a si e aos filhos, de escutar os nossos sentimentos e ne- existem 72 opções.
cessidades e também os desejos e necessidades deles,
buscando o equilíbrio na relação familiar. Em sua opinião, quais são as princi-
pais causas dessa resistência?
O que é e como praticar no dia a dia a comunicação não vio- Aceitar que bater em uma criança é
lenta? um ato de violência é também acei-
A comunicação não violenta é um método de vida, uma tar que fomos violentados em nossas
forma mais compassiva de enxergar a si e o outro. Po- infâncias. Não digo com isso que os
demos praticá-la com o exercício diário de sairmos dos nossos pais foram insuficientes em
nossos julgamentos e nos concentrarmos na realidade sua missão, eles fizeram o melhor
em si e em como ela reverbera em nós. Já reparou que que podiam com as ferramentas que
somos hábeis em rotular o comportamento do outro, tinham. Mas foram violentos de di-
mas pouco capazes de descrever o que acontece dentro versas formas. Educar de maneira
de nós? Eis o exercício de não violência mais urgente e não violenta é um exercício de au-
também mais difícil. toconhecimento, de revisitar-se dia-
riamente e isso dói porque nos faz
olhar com responsabilidade para
LIVROS coisas das quais sempre fugimos.
EDUCAÇÃO NÃO VIOLENTA COMUNICAÇÃO COMO SE RELACIONAR
– COMO ESTIMULAR NÃO-VIOLENTA BEM USANDO A Quais heranças recebidas das gera-
AUTOESTIMA, AUTONOMIA, Marshall B. COMUNICAÇÃO ções anteriores mais prejudicam na
AUTODISCIPLINA E RESILIÊNCIA Rosenberg NÃO VIOLENTA criação dos filhos?
EM VOCÊ E NAS CRIANÇAS Agora Thomas A maior queixa que escuto dos pais
Elisama Santos R$ 94,50 D’Ansembourg é que não conseguem se controlar
Paz e Terra Sextante quando estão irritados. Gritam,
R$ 34,90 R$ 34,90
batem. Se fôssemos ensinados a
lidar com as nossas emoções des-
de crianças, não estaríamos hoje
mais hábeis em conter as nossas
feras? Será que não seríamos me-
nos reativos? O maior malefício
da educação tradicional é que não
nos educa emocionalmente. So-
mos analfabetos emocionais. >>>
MAIO E JUNHO DE 2019 11